terça-feira, abril 05, 2011

História

O povo hebreu: da Mesopotâmia à fundação do Estado de Israel

Patrícia Gaier Martins

Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:1-3)

Abrão, nascido na cidade de Ur, na Mesopotâmia, foi o primeiro patriarca hebreu. Acredita-se que sua família se mudou para Harã por ser uma terra mais próspera. Após a morte do seu pai, Abrão reúne suas riquezas, servos, esposa e seu sobrinho Ló e vai em direção à Canaã, na Palestina. Tinha ele setenta e cinco anos quando saiu de Harã.

Abrão, juntamente com Sarai, peregrinou por muitos anos em busca de melhores pastagens para o seu rebanho. Nesse tempo, conquistou a amizade do rei de Salém, Melquisedeque, que o recebeu em sua terra logo que Terá, o pai de Abrão, faleceu. Também venceu várias batalhas, pelas quais foi reconhecido como um grande líder militar e temido pelos povos vizinhos.

Por volta de 1750 a.C., uma grande seca assolou as terras da Palestina e os hebreus foram obrigados a migrar para o Egito. Fazendo um parênteses, podemos sintetizar a história de Abraão: depois de ter migrado para o Egito, ele volta à Canaã e torna-se rico; separa-se de Ló, que vai embora para Sodoma; tem um filho com sua comcubina, chamado Ismael; muda o nome de Abrão para Abraão e é circuncidado; tem seu primeiro filho, Isaque, com Sarai (mudado para Sara); tem dois netos chamados Jacó e Esaú, filhos de Isaque; e, por fim, morre com cento e setenta e cinco anos. As promessas de Abraão permaneceram para os seus descendentes. Enquanto tudo isso acontecia, os hebreus fixaram suas tendas no Delta do Nilo e, ali, permaneceram por 400 anos.


Nesta época, o Egito estava sob o domínio dos hicsos, que contratavam os hebreus para diversos trabalhos, por acreditarem ser um povo de Deus. Depois que os hicsos foram expulsos pelos egípcios, os hebreus passaram a sofrer perseguições e foram escravizados. Então, surge outro homem escolhido por Deus: Moisés. Liderados por ele, os hebreus deixam o Egito e iniciam o retorno à Palestina, com o objetivo de conquistar Canaã, a Terra Prometida (Êxodo 3). A partir desta pequena viagem (de 40 anos) no deserto, acontecem grandes milagres e marcos históricos, tais como: a grande ruptura do mar vermelho, a provisão do maná e da água (retirada da rocha), a provisão da carne para alimento, a coluna de fogo à noite e a grande nuvem para o dia, a construção do Tabernáculo e da Arca da Aliança, a revelação do Decálogo escrito nas Tábuas da Lei. Tudo isso aconteceu com o povo sendo liderado por Moisés, que forjou os bandos de hebreus, entrelaçou a ideia do Deus único – ainda que insistissem adorar outros deuses – e morreu antes de chegar à Palestina. Até aqui, a história é relatada pelo próprio Moisés a partir de uma visão dada por Deus, que conta desde a criação até os dias de Abraão, e, também, toda a sua jornada com o povo hebreu. São estes os livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.



Após a morte de Moisés, Josué assume a liderança do povo. Conforme a promessa divina de que a descendência de Abraão iria habitar Canaã, o povo é dividido em doze tribos, sendo que dez têm os nomes dos filhos de Jacó (neto de Abraão) – Rúben, Simeão, Levi, Judá, Zebulom, Issacar, Dã, Gade, Aser, Naftali, Benjamim – e duas têm os nomes dos netos de Jacó – Manassés e Efraim, filhos de José. Essas tribos eram autônomas, unindo-se apenas para guerrear contra cananeus e filisteus. Eram lideradas por juízes, chefes guerreiros entre o povo (destacam-se Sansão, Gideão e Samuel). Ao decorrer das lutas contra os povos da Palestina, as tribos perceberam a necessidade de construir um Estado politicamente organizado e implantaram a monarquia por volta de 1000 a.C.

Saul foi o primeiro rei de Israel. Durante o seu reinado, venceu muitas batalhas, mas também teve algumas derrotas e suicidou-se. Foi sucedido por Davi, um jovem pastor de ovelhas, que derrotou Golias, o feroz guerreiro dos filisteus. Em seu governo, organizou o Estado e definiu Jerusalém (fundada por Saul) a capital do reino.

O governo de Salomão, sucessor e filho de Davi, marcou a monarquia. Fortaleceu o poder, criou uma administração eficiente e construiu palácios e templos, destacando-se o Templo de Jerusalém, onde era guardado o Decálogo. Para o sustento do reino e dessas construções, as tribos deveriam pagar tributos à corte, o que as deixou descontentes.



Com a morte de Salomão, Reoboão, seu filho, assume o trono. Neste tempo, instala-se uma crise política sucessória, que levou à divisão das tribos. A esse período da história hebraica atribui-se o nome Cisma, em que o Reino de Israel ou Reino do Norte era constituído por dez tribos, com capital em Samaria, e o Reino de Judá ou Reino do Sul constituído pelas duas tribos Judá e Benjamin, com capital em Jerusalém. Reoboão governa, então, Judá e Jeroboão governa Israel. Com esta divisão de reinos, os hebreus passaram a ser israelitas e judeus.

Reoboão governou Judá por 209 anos. Em 721 a.C., a Assíria invade e conquista Israel, e as dez tribos desaparecem. Provavelmente, por serem distribuídas pelo território assírio, as tribos se dispersaram, uniram-se aos assírios e perderam sua cultura. Menos de dois séculos depois, em 596 a.C., o rei da Babilônia, Nabucodonosor, conquistou Judá, destruiu o Templo de Jerusalém e transferiu o povo judeu para a Mesopotâmia, no Cativeiro Babilônico. Em 538 a.C, o rei Ciro I, da Pérsia, conquistou a Babilônia e permitiu que os judeus retornassem à Jerusalém e reconstruíssem o Templo¹. Em 332 a.C., o império macedônico formado por Alexandre, o Grande, domina a Palestina.

Vários conflitos ocorreram e os judeus foram expulsos novamente da Palestina e dispersos pelas províncias romanas. Esse episódio chama-se Diáspora, que significa dispersão. Sem território próprio, passaram a viver em pequenas comunidades, preservaram sua unidade cultural (língua, religião, costumes) e mantiveram-se como nação até 1948², quando a ONU (Organização das Nações Unidas) criou o Estado de Israel, permitindo o retorno do povo judeu ao antigo território. Porém, a criação de Israel provocou conflitos com os palestinos, populações de origem árabe que há séculos ocupavam a região. E essa situação de guerras na Palestina continua até hoje.



Ora, podemos lembrar da promessa divina feita aos descendentes de Abraão e observar que mesmo tendo sido perseguidos e expulsos de suas casas desde os tempos remotos, os hebreus resistiram e mantiveram sua identidade, tornando-se, assim, uma grande nação.

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¹ Mais tarde, com a invasão romana, o Templo é destruído novamente. Hoje, resta dele o Muro das Lamentações.

² Três anos após o final da II Guerra Mundial (1939-1945), em que judeus foram praticamente exterminados pela Alemanha, sob a liderança de Adolf Hitler.


Referências bibliográficas:

MOTA, M. B.; BRAICK, P.R. História das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, 2002.

Alguns livros da Bíblia Sagrada.

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